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É PROBIDO NÃO PROIBIR!

23 de setembro de 2014

Embevecidos pela melodiosa voz de Caetano Veloso, grande parte da geração pós-ditadura militar foi educada a partir da assertiva “É proibido proibir”. Os anos de chumbo daquele processo violento e totalitário de instauração do poder, associado ao levante do movimento hippie, levaram muitos pais e professores a adotarem como práxis o sistema de uma liberação quase total e permissiva, em que toda e qualquer mínima tentativa de organização e ordem ganhava conotação de repressão, devendo ser evitada. Historicamente, esse é um processo comum, onde países que viveram experiências nefastas de regimes ditatoriais adotam, depois, caminhos extremosos, saindo de um sistema disciplinar fechado em si mesmo a uma liberação deteriorante e sem sentido.

O efeito dessa realidade está diante de todos: pais, que não assumem seu papel, exatamente porque não encontram o limite entre a firmeza e o afeto; filhos, que aprendem desde muito cedo a arte de manipular os pais, jogando com as emoções dos mesmos, até conseguirem exatamente o que desejam; professores, encurralados entre o desempenho de seu ofício e as pressões que lhes vêm das famílias, do Estado ou das próprias instituições nas quais trabalham. Acrescenta-se a isso significativo número de alunos laudados com patologias diversas, sinalizando problemas de natureza emocional e/ou pedagógica.

Num quadro onde papéis não estão bem definidos, é natural que surjam problemas de vários matizes. Mas, nesse jogo, quem faz o quê? É a partir dessa resposta que será possível encontrar possibilidades e vislumbrar caminhos. Numa sociedade com realidades tão contrastantes e em mudança contínua, quem é o professor? Em princípio e para elucidar alguns equívocos, é preciso deixar claro que, ao professor, não cabe educar! Professor não é educador! O professor é um mestre habilitado para ensinar. Seu trabalho é habilitar o aluno, via conhecimento, a utilizar as ferramentas necessárias para que esse jovem obtenha êxito na busca por um espaço no mundo do trabalho.

E o papel dos pais? Soa como redundante e até sem sentido, no entanto é urgente alertar os pais que sua função é, simplesmente, ser pai, ser mãe, e para o que de mais sagrado essas pequenas palavras da língua portuguesa sinalizam. Os pais são educadores por excelência e por escolha. A opção de ter filhos implica grande responsabilidade diante do Transcendental e também do social. A transmissão das noções exatas de limites, regras, respeito ao outro, à diversidade cultural, religiosa, étnica, bem como à natureza e a todas as expressões da Vida é de competência dos pais. E essa tarefa é intransferível! Um professor não deveria perder sequer um minuto de seu tempo ensinando a um jovem que no ambiente escolar não se pode gritar, xingar, usar aparelho celular, exatamente porque essas orientações, além de outras várias, já na mais tenra infância, devem ser dadas pelos pais, principalmente através do exemplo. A formação escolar é diferente da familiar, não sendo possível, de forma alguma, uma substituir a outra.

Os pais não podem se sentir coibidos nessa tarefa. O pátrio poder lhes assegura o exercício pleno dessa competência. E não há nada de extraordinário nesse exercício. Por exemplo, como poderemos exigir de um aluno que entre no horário exato da primeira aula, se ele é educado num sistema em que para absolutamente nada há horário fixado? E agora questiono a alguns pais que poderão ter acesso a este texto: Pais, em suas casas, há horário determinado para as refeições? Para dormir e acordar? Há tempo e espaço pré-fixados para o estudo extraclasse? Para o lazer com o videogame e/ou redes sociais? Há uma lista com as pequenas tarefas domésticas que seu filho pode fazer para ajudar na rotina da casa?  Existe uma relação entre direitos e deveres? Para ter acesso a “isso”, deverá fazer “aquilo”, por exemplo? Se a resposta para essas questões for não, então está na hora de se repensarem algumas coisas. E rápido! Porque a indisciplina generalizada cria raízes e hábitos que, depois de arraigados, dificilmente são transformados. Por isso, é proibido não proibir, é proibido deixar que tudo caminhe sem direção, sem orientação. Em muitas situações, é necessário proibir, sim. Claro que argumentando, mostrando os prós e contras, mas deixando claro quem é a autoridade da casa. Autoridade não se confunde com autoritarismo. Autoridade relaciona-se com o poder de decisão via argumentação; no autoritarismo, vale o poder da força pela força, sem diálogo e abertura. Portanto, não se está defendendo aqui um sistema familiar despótico, mas um ambiente de respeito e compreensão mútuos na casa, que deve, antes de tudo, ser um ambiente sagrado, onde reinem a paz, a compreensão e a humanização de todos. É a parceria entre afetividade e verdade que possibilita a formação de um jovem consciente. Por isso, pais e filhos devem transitar pelo diálogo constante, buscando uma relação harmônica e feliz, mas pautada na reta consciência dos deveres cumpridos. Com efeito, o adolescente deve saber que pode contar com os pais e responsáveis em sua vida para auxiliá-lo, mas jamais para assumir suas responsabilidades.

E à escola? O que lhe compete? A escola é o espaço de interação e desenvolvimento humano, afetivo, mas seu papel por excelência é o ensino, é a transmissão do conhecimento. À escola cabe preparar o aluno para o mercado de trabalho, para a consciência política e crítica do meio no qual se está inserido, capacitando esse jovem para ser um agente de transformação social, formando multiplicadores nesse processo lento, mas contínuo. Assim, a escola, de um modo geral, prepara para o exercício profissional e a família para a vida. Essas funções, naturalmente, encontram-se e confrontam-se, em vários momentos da formação, mas não se pode perder de vista a essência de cada uma. Quanto ao Estado, cabe-lhe regular esse sistema, normatizando, pela legislação, o campo de atuação de cada componente.

A escola, como instituição, está gritando, pedindo socorro, pedindo parceria das famílias. Escola não existe para reprovar, punir, constranger. Nenhum professor consciente sente-se feliz em retirar um aluno de sala de aula ou enviá-lo à coordenação por indisciplina. Não são essas as funções da escola e do professor, daí a necessidade de uma interação entre escola e família, visando sempre ao melhor, ao êxito e sucesso do aluno. Nessa perspectiva, escola e família dividirão angústias e se apoiarão, compartilhando soluções de forma integrada e participativa. Os pais precisam acreditar na proposta da escola na qual matriculam os filhos, não podem contradizer a instituição em que depositaram confiança, investimento. É preciso, pois, investir numa educação em que família e escola andem de mãos dadas, com tarefas distintas; no entanto, com objetivos semelhantes.

Saúde, paz e equilíbrio!

Roberto Machado

Professor de Língua Portuguesa

 

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